quarta-feira, fevereiro 08, 2017

DROGA ILÍCITA

Temos mesmo um aparato eletrônico impressionante
que nos fazer poder sentir
sei lá o que sentimento
laríngeo, de não fazer se expressar
letras, através de uma tela

Pressionar as teclas do login
e da senha
digitar
por um mundo melhor, sem ter um fim

Um castelo de cartas,
impressionante a um ponto de vista
uma realidade de estado
um farol aceso, iluminado

sentar-se nas pedras da praia
assassinar sem ter piedade
perder-se por isso em ansiedade
eu estou perdido
pois já conheço o mundo todo
e ainda não sai de casa.

terça-feira, setembro 20, 2016

SACO PRETO

O lixo é um prefácio, tempo.
Duro e perverso, perfura, fica.
Recorda a vida, terreno.
A ruptura lhe assola, de si, pleno

Sem vida ilumina, estaguina
O instrumento que recorda.
A máquina do tempo.

domingo, agosto 28, 2016

segunda-feira, junho 06, 2016

DISTRAÍDA

Tenho ciumes desse cigarro que você fuma
tão distraidamente.

(...)pra cessar essa obsessão, olho no olho
é impossivel. Jamais. Daria certo,
dizer não pra você
eu te procuro por todo canto.

fiquei a noite escrevendo este poema pra você
a parte do poema menos doce é o embaraço...
Mas o poema não te cala, mesmo que se saiba
que não vai render você, eu não quero que se aproxime, jamais

eu herdaria qualquer sentimento e qualquer pesar
eu daria o mundo
pra sentir o gosto do seu cigarro.

O MODO DUAL

O amor despótico do seu gostar
me expulsa pra fora da vida
e não consigo mais me lembrar de nada
      do passado de uma vida sofrida.

Demais, a sinta, e nada mais me passará pela cabeça
Recordo abandonando todo o agora
ao falhar em traduzir pra você, o verbo
que não me sai, da cama

Nada mais me atinge, exceto o "porquê"
pra saber o que se passa
no seu gostar: em gostar, de mentir pra você.
Ter fingir que na verdade eu não sei.
mesmo
sabendo
do retro-gosto do seu beijo.

A vida é um jogo jogado pelo seu jeito, me im-porta,
e torna de minha vida, sintética.
Me expulsa da lei, e proíbe o verbo:
eu tento e continuo tentando
ainda que, todos os cantos,
de todos os cantos
tentem me convencer
do contrário.

O verbo é quem agora me atinge,
O meu contato com o seu, eu pago por ele,
mas você ainda há de negar, pois sabe que ainda vai durar...
E fazemos certo, pois ainda não me contento com a mais incerta busca
e quando estou certo, ele sou eu, e corro covarde de estar perto
pois nada mais é capaz de ser tão profundo
do que acordar e começar um novo dia e conhecer você.

O nada é quem agora me atinge,
Minha ética, deixou de ser, ano pós ano, e não sobrou nada.
Por último, lamenta, ainda, que ele não seja aquele quem você admira.

Mas há de ser quem se propôs a viver na loucura.
E autenticou meu modo dual de lhe conceber
pois tão rápido
Eu te conheço.

quinta-feira, abril 16, 2015

Ode I
Alexei Bueno
in A Via Estreita

Caminhando na noite, mais centrado que um poço, sem saber até quando
Agora, quando as multidões já não são um espelho infiel,
Como nos fica claro que tudo nos dá as costas.
O vácuo noturno, como um hausto estrelado, nos dá as costas,
O espaço entre as casas, o corredor que o acaso ergueu para nós
Em sobrevivência e pedra,
Nos dá as costas,
Os habitantes presentes, os habitantes extintos, os futuros que não lançaram um vagido
Nos dão as costas,
E nós mesmos, nós mesmos  a nos deixarmos a cada segundo,
Nós mesmos, o ouvido esquecido no último estalar de nossos pés nas lages,
Nos damos as costas.

Senhor, que procuras aqui?
Não, não é aqui a sua casa.

...Criança perdida dos pais às seis horas entre os vidros comerciais, após ter fugido deles apenas por brincadeira,
Velho escleroso que saiu despercebido de casa, sem se lembrar do nome ou da casa,
Cachorro que escapou pelo portão, e por estar mau de faro ou da alma não reencontrou o caminho,
Bonequinho de borracha flutuante que uma onda arrancou das mãos do menino,
E agora navega, inafundável, sabe-se lá por que vasto oceano,
Pássaro que se soltou da corrente, atônito e faminto nas árvores de um terreno baldio...

Não, senhor, não é aqui sua casa.
Não se lembra do bairro, o nome do seu filho, sua filha?
Qual o seu, pelo menos?

Calma, olhemos as flores.
Doce pilosidade da terra, com um corpo mais sutil e mais vasto na carne levíssima da noite,
Felizes vocês, estrelas do mar da argila,
Diademas radiados de um imperador antigo que se chama chão,
Raios de Moisés de um profeta que é um torrão de barro,
Astros pontiagudos da touca do pó...

Felizes vocês, a quem nada volta as costas,
Vocês, que são as próprias costas, e a frente e o centro,
Derivação absurda de um não-ser cheio de formas,
Corpo sem alma, do qual a alma somos nós, vagando, como um sonâmbulo pelo infinito,
Espera alucinada de algum limite que nunca existiu.

Talvez seja melhor ligar para a polícia.
Sua idade ao menos, o senhor lembra, por favor?

E lá na esquina, no entanto, as grandes torres que ficam.
As janelas sem um olhar, as altas portas trancadas.
O vento que arranca as pétalas felizes não as abala,
Elas que são fixas como um triunfo, um fundamento que nos detivesse.
Ah! se os sinos tocassem em plena madrugada, sem mão nenhuma os tangendo,
Se as portas se escancarassem pela própria vontade, mostrando que uma alma incipiente invadiu a matéria,
Se todo corpo inútil, imensamente sem alma, do universo inteiro se aproximasse de nós,
Quebrando o isolamento eterno, as costas, as costas voltadas,
Se as árvores se arrancassem do chão, e claudicando sobre as raízes dançassem nas praças,
De mãos dadas, soltando os cabelas ao vento, e cantando pelos ocos hiantes,
Se os astros no céu formassem desenhos, escrevessem legendas de luz,
Se as pedras das ruas se soltassem por sua própria vontade,
E os postes vagassem como holofotes preocupados pelos caminhos sem volta,
Se tudo fosse a alma que somos, o espelho da Natureza, e não só a nós coubesse o terrível serviço,
Entre as ondas que vomitassem poemas e as estrelas pintoras
Gritaríamos então que chegara a verdade,
Tão absurda quanto a outra, menos que a outra, a verdade;
E o tempo não nos separaria de tudo que não somos nós
Arrancando-nos de nós, para que não nos confundamos, nem conosco,
Pois a própria consciência corrói o imponderável ser, maior que ela...

Em que cidade o senhor nasceu, aqui, nesta mesma?

E assim vamos de novo. As pedras estão tranquilas.
Nada se moveu. O rio continua a correr. Os astros admiram distantes.
As árvores não dançaram. Não recitaram as ondas. O pacto permanece.
Tudo nos volta as costas. Tudo é costas. E enquanto isso os insetos
Morrem na noite quase como uma felicidade,
Sem nome e sem dor, os insetos perfeitos.

As torres apontam para o céu. Um grande espírito petrificou-se.
Maior que os cegos que se masturbam nas quinas, mais indiferente
Que os loucos que constroem sobre a areia, mais endurecido
Que os pecoços dos que não erguem mais o olhar, que os triunfadores que não param,
Cada pináculo se cumpre, indica e nos espreita.
E no entanto os cães, outros os mesmos, latem, latem, como nosso vagante coração.

Ah! esse rio que corre na terra e sem ela.

Calma, senhor, a qualquer momento lembrarás teu nome.


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terça-feira, junho 19, 2012

LUCIDEZ DO DESAPEGO

Imagine só se
ao ocupar sua mente 
tu sentisse satisfeito e
então nada mais fizesse efeito a
tristeza não lhe tomasse como
o Rei toma o sangue da
batalha que causou
da dor que derramou
do pesar que não sentiu
do coração que se partiu quando
o amor o escolheu
e então depois cedeu
Imperador do nada
pois a pobreza enlouqueceu quando
o amor o escolheu.